O Brasil está entre os cinco países que mais matam mulheres no mundo. O país convive com a hipocrisia de um histórico de objetificação da mulher, tratada como mercadoria em peças publicitárias, e com uma gritante diferença de oportunidades e salários entre os gêneros, beneficiando os homens. “Uma Novela Masculina” é um texto dramático sobre isso. São apresentadas situações de opressão em ambientes familiares e profissionais, e do uso da opressão como modo cultural, difundido pela novela “Pecados da Paixão”, em que a mocinha e a vilã levam a cabo planos ardilosos e cruéis na disputa pelo quase absorto galã. Nas relações apresentadas em casais de diferentes gêneros e condições sociais, (Caminha/Samantha, João/Heloísa) vão se desenhando comportamentos machistas a que parte da sociedade já se habituou como comportamentos culturais, arraigados no modo de vida. Refletindo estes ambientes, conduzindo e costurando a história, a jornalista Gisele reflete, em contraponto a seu colega de redação Alfredo e seu chefe Ezequiel, o machismo nas profissões. “Uma Novela Masculina”, no entanto, não pretende se posicionar como um objeto político dentro dessas relações. Ele é um objeto de provocação aos dois lados da discussão. Porque, como se verá no decorrer de sua leitura, ao discutir a violência, o texto propõe, como paradigma para desencadeá-la, mais violência. Como se perguntasse, ‘no final, o oprimido adquire, por uma espécie de direito, a opção de oprimir?’